Dólar abre em alta e bate R$ 6,16, com avaliação final do pacote de corte de gastos; Ibovespa cai
23/12/2024
Na sexta-feira, a moeda norte-americana teve queda de 0,81% e fechou aos R$ 6,0719, após leilões do BC. Notas de dólar
Gary Cameron/Reuters
O dólar abriu em alta nesta segunda-feira (23), e opera na casa dos R$ 6,14, com a avaliação do pacote de corte de gastos, que terminou sua tramitação no Congresso Nacional. Na máxima do dia, chegou aos R$ 6,1611. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, tem queda.
Investidores acompanham de perto o desenrolar das propostas de corte. Há um temor de que as medidas anunciadas não sejam suficientes para equilibrar as contas públicas e conter o avanço das despesas do governo.
Houve uma "desidratação" de algumas medidas — ou seja, pontos foram alterados e podem conter as despesas públicas em patamar menor que o esperado.
Nesta sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou as mudanças no pacote. Segundo ele, o Congresso Nacional atendeu, dentro das suas possibilidades, "em um prazo curto de tempo", um resultado preliminar "muito interessante".
O titular da Fazenda também acenou ao mercado falando em novas medidas de redução de despesas no decorrer de 2025, sem detalhá-las.
Investidores também aguardam para o fim da semana os dados da prévia da inflação de dezembro e os dados de desemprego do país em novembro.
Na semana passada, a moeda americana passou por uma sequência de altas. O BC colocou mais US$ 28 bilhões em leilão para aumentar a oferta de dólares no mercado e conter o aumento.
O presidente do órgão, Roberto Campos Neto, avaliou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano e, por isso, a instituição resolveu intervir. No ano, o dólar tem alta de 25%.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
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Dólar
Às 10h30, o dólar operava em alta de 1,26%, cotado a R$ 6,1485. Veja mais cotações.
Na sexta-feira, a moeda norte-americana teve queda de 0,81%, cotado a R$ 6,0719.
Com o resultado, acumulou:
ganhos de 0,62% na semana;
alta de 1,19% no mês;
avanço de 25,13% no ano.
Ibovespa
O Ibovespa opera em queda de 0,76%, aos 121.177 pontos.
Na véspera, o índice teve alta de 0,75%, aos 122.102 pontos.
Com o resultado, acumulou:
queda de 2,01% na semana;
perda de 2,84% no mês;
recuo de 9% no ano.
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O que está mexendo com os mercados?
O Congresso concluiu na sexta-feira a tramitação do pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal. A ideia inicial era economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030.
No café da manhã com jornalistas, na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta feita pelo governo.
"Fala-se em 'desidratação', mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver 'hidratação' [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo", afirmou Haddad.
O mercado, mais uma vez, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.
"Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos", diz um relatório da empresa.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico consolidaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.
A semana é mais lenta por conta do feriado de Natal, mas os agentes econômicos esperam dois dados importantes no fim da semana.
Na sexta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os números do desemprego em novembro e a prévia da inflação de dezembro (IPCA-15). Ambos saem às 9h.
Nesta segunda, o que houve de mais importante foi o reajuste de expectativas do mercado vistos no boletim Focus. A sondagem com mais de 100 instittuições financeiras mostra o que os especialistas esperam para o futuro da economia.
Para este ano, a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou de 4,89% para 4,91%. Com isso, segue acima do teto da meta de inflação para este ano, que é de 4,50%.
Segundo analistas, o aumento de gastos públicos é um fator que tem pesado para o aumento das projeções de inflação. Para 2025, a estimativa de inflação teve forte aumento na semana passada, avançando de 4,60% para 4,84%.
Sobre a taxa básica de juros, a projeção do mercado para o fechamento de 2025 subiu de 14% para 14,75% ao ano. Para o fim de 2026, o mercado financeiro elevou a projeção de 11,25% para 11,75% ao ano.
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